Eduardo
Rebollo reconhece que não basta ter acesso à informação; o
fundamental é transformá-la em conhecimento contextual
Rogério
Pereira da Silva
O
autor parte das perspectivas de se estudar o conhecimento. Do ponto
de vista filosófico o conhecimento resulta da relação do sujeito
com o objeto, que passa a ser
conhecido,
seja como objeto concreto, seja como ideais, valores ou objetos
matemáticos.
A
perspectiva psicológica conduz ao estudo do processo cognitivo e
analisa a sensação ou recepção dos estímulos. Ele explica que a
experiência do conhecimento não é algo cumulativo, visto que
quando um novo conhecimento é adquirido, produz uma reorganização
em todo o conjunto.
Das
teorias do conhecimento, as mais citadas são, segundo Rebolo,
empirismo, racionalismo e idealismo. Jean Piaget fala do conhecimento
como um processo adaptativo através do equilibro constante de
equilíbrio e acomodação e assimilação das estruturas do sujeito
e do objeto reciprocamente.
A
autor faz essa introdução para falar em “conhecimento popular”
e “conhecimento
erudito”,
tendo no conhecimento popular algo que surge da experiência –
direta ou indireta – com a realidade do dia-a-dia, num tipo de
conhecimento que é capaz de observar e absorver fatos e fenômenos.
O
conhecimento popular tem valor reprodutivo, que é passado de geração
em geração, não se preocupa em alterar estruturas ou se aprofundar
em outras questões. Já o conhecimento erudito é aprendido e busca
certo distanciamento do objeto. Por ser mais
reflexivo
é transformador.
Na
sociedade de informação há uma explosão de dados que poderiam nos
auxiliar na busca do conhecimento, mas são colocados de maneira
caótica e quem se aventura a
buscar
as informações necessita de um guia ou uma direção muito clara,
pois pode se
perder
ou se afogar nesse mar incauto.
O
autor diz que não importa tanto falar-se em Internet 2, 3 ou 100,
pois a qualidade
das
informações e o conhecimento estariam perdidos no meio de muitas
outras informações sem importância. Mesmo que se criem filtros e
refinamento nos buscadores, isso não basta.
Ele
sugere que a chave, para abrir as portas corretas, devem estar
dentro de cada um, pois o indivíduo é o único capaz de ponderar a
qualidade de um texto e isso não é um problema de software, mas de
cabeças.
O
autor comenta também que as novas tecnologias da informação que
surgem e se
proliferam
não estão acessíveis a todos e criam a diferença entre aqueles
que tem tempo e disponibilidade e os que ficam à margem. Ele diz que
já se pode falar em infopobreza. Isso afeta não somente os
indivíduos, mas nações. Há uma nova trama econômica, social e
cultural. Nesse cenário os sistemas de educação deveriam
desempenhar um papel essencial.
Castells
em seu livro “A era da Informação” nos coloca que há
populações distintas:
aquelas
que podem selecionar circuitos de comunicação multi-direcionados,
aos quais ele chama de interatuantes, e os que têm um número
limitado de escolhas, os interatuados.
Nesse
jogo já estamos no terceiro tempo. E qual é a atitude das
Universidades ante
estas
realidades?
Universidade
e tecnologias
Acompanhar
as novas tecnologias no seu surgimento e crescimento rápido e
constante é quase impossível para a Universidade, por sua estrutura
tradicional. Mas, diante das inovações já existentes, a estrutura
tradicional de cadernos de presença / docentes / cursos sempre
presenciais que são atualizados, no melhor dos casos anualmente,
devem
responder
ao desafio das tecnologias da informação, não apenas para ampliar
as possibilidades da partilha do conhecimento, mas também para
preparar os alunos para um mercado cada vez mais integrado com essas
tecnologias. Espera-se que os estudantes saiam da universidade com
conhecimento de causa.
Corrigir
essa defasagem não é tarefa fácil, pois há necessidade de
mudanças estruturais tanto físicas quando da mentalidade de um
corpo docente que esteja disposto aos desafios de uma evolução
cognitiva. E não apenas o fator humano, mas as implicações
econômicas,
de espaços físicos, formas de gestão, etc.
Mas
a universidade é metodologicamente e cognitivamente lenta. Vê-se
uma velocidade interna e outra externa. Há um paradoxo, pois
universidade deveria ser o ambiente ideal para o novo é onde existe
a resistência.
Segundo
muitos ensaístas, estamos às portas de uma nova maneira de formar o
conhecimento. A sociedade, que antes se baseava nas relações
materiais agora se baseia nas relações de comunicação.
O
que mudou para a Universidade
Com
o avanço das tecnologias e sistemas de comunicação a universidade
está perdendo parte da exclusividade como centro de saber. Além das
suas próprias famílias, as crianças têm nos meios de comunicação
uma nova fonte de conhecimento e saber.
A
velocidade da sociedade é mais rápida que a velocidade de
atualização dos programas curriculares. O saber está à mão
apenas através de um click e a universidade não pode competir de
igual para igual com essa tendência.
Os
modelos de estudo onde o professor fica uma hora e meia à frente da
classe parecem estar se esgotando, por mais capacidade que o docente
tenha. Não se trata de transformar professores em showman mas sim de
atualizar de alguma forma os discursos e as formas de relação
professor-aluno que se apresentam hoje.
Professores,
estudantes de gestores vêem essas mudanças em perspectivas
diferentes, como aqueles que acham que as mudanças são boas por si
mesmas e que deve-se incorporar a tecnologia para modernizar-se, ou
aqueles que entendem que o controle do
conhecimento
está perdido e estão quebrando as estruturas da universidade ou
os que
acreditam
que os sistemas tecnológicos têm sua sede de controle nos centros
hegemônicos e que nos torna mais dependentes como periferia.O
caminho que começa
Diante
da realidade é necessário que a universidade se transforme. Mas
como fazer isso é a questão, visto que a universidade faz parte da
trama social que está inserida e não
pode
se ficar de fora de suas mudanças ou influências.
A
questão de reformar, modernizar e transformar a universidade não é
nova e várias
propostas
e modelos foram tentados, sem muito êxito. A resposta não está
simplesmente
trazer
os meios para dentro da universidade, pois essa tentativa foi feita
com a inserção de materiais como o vídeo cassete, áudio, como se
isso fosse tornar o ensino melhor, mas não foi o que aconteceu.
Muitos
estudantes trazem aos professores realidades novas e muitas vezes
inimagináveis quando narram seus trabalhos nas empresas e novas
formas de conquista de clientes, etc.
Estão
em outro nível de busca de conhecimento que a universidade procura
chegar, que é o de não acumular conhecimento, mas o de provocar a
investigação, abrir as mentes e a criatividade.
Temos
que desenvolver as experiências da educação à distância, romper
com os esquemas de aula como centralidade, potencializar o trabalho
fora da classe e integrar a
idéia
da formação permanente.
Há
que se fazer um mix entre o mundo material e o mundo comunicacional,
entre experiências do conhecimento e novas formas de tecnologia:
integrar práticas com teorias.
O
futuro imediato, ou seja, agora, o problema não é ter acesso à
informação, mas sim em como transformá-la com conhecimento e
colocar dentro de um dado contexto. Há
cada
vez mais máquinas para mais pessoas, mas as diferenças também são
grandes entre os que consomem e os que são capazes de produzir além
de consumir (prosumidores?).
Há
um grande desafio pela frente para os responsáveis pela formação
dos futuros protagonistas das nossas sociedades. Ajudá-los a
discernir qualitativamente é um dos
desafios
mais difíceis que temos adiante. Mas difícil não é impossível.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
REBOLLO,
Eduardo - Informação e conhecimento na sociedade da informação,
In: MARQUES DE MELO, TARSITANO, GOBBI & SATHLER – Sociedade do
Conhecimento: aportes latino-americanos, São Bernardo do Campo,
Editora Metodista,
2005
Acessado
em 23/05/2012 às 10:10h
Postado
por: Emiliana Raquel Sousa Raele