terça-feira, 22 de maio de 2012

A IDENTIDADE SOCIAL DO IDOSO: MEMÓRIA E CULTURA POPULAR



A IDENTIDADE SOCIAL DO IDOSO: MEMÓRIA E CULTURA POPULAR
    
Silvane Aparecida de Freitas
Maria Jacira da Costa

RESUMO
A cada nova geração, os modos, comportamentos as expressões verbais e as histórias populares vão sendo esquecidas ou assumem novos significados. Pensando na importância da re-significação dessas histórias, desenvolvemos este estudo visando contribuir para a construção de mecanismos de preservação da cultura popular. Para isso, transcrevemos os relatos de cinco idosos, internos no Asilo Santo Agostinho, com o objetivo de trazer à tona sua cultura, criar condições favoráveis para a socialização do idoso e desfazer a visão unilateral e estigmatizada que vem desde a antiguidade, que imobiliza o idoso, impossibilitando-o de reagir aos estigmas da velhice. Ao verificar que a maioria desses sujeitos não possui alfabetização escolarizada, constatamos o quanto de sabedoria popular eles têm para compartilhar, possuem uma pedagogia própria que permite a leitura e interpretação de mundo.

Palavras-chave: Idoso. Identidade. Cultura. Educação.

Introdução

Na antiguidade, a cultura de um povo era transmitida de pai para filho, de geração para geração, apenas por meio da oralidade, sendo a memória humana que conservava as histórias, as crenças, os costumes das pessoas, de indivíduos que viveram, participaram dessa esfera cultural e outros fatos relatados por seus antepassados. No entanto, com as transformações pela qual a sociedade brasileira passou, devido ao processo de industrialização e aos avanços tecnológicos, a humanidade tem buscado novas conquistas e descobertas que trazem ao homem atual facilidades que os antigos não tinham.
Partimos do princípio que todo ser humano tem sua cultura e a promove na medida em que se comunica com o outro. Consideramos que a cultura das pessoas menos escolarizadas é rica em sabedoria popular, brotada do senso comum, da intuição, que é a origem do conhecimento erudito. Ao buscar compreender a identidade cultural de pessoas com mais de sessenta anos, queremos também refletir sobre a educação, bem como os mecanismos internalizados e as contribuições que nos trouxeram. Sabemos que
uma grande parte dessa geração não possuía conhecimento escolarizado devido à olítica, ao sistema de exclusão, e a cultura da época não valorizava esse tipo de conhecimento, já que a leitura e a escrita eram privilégios de poucos.
Partindo desses princípios, visamos refletir sobre a maneira como o idoso é visto na sociedade atual, sendo tratado com indiferença acaba por reduzir ainda mais a sua já abalada auto-estima, contribuindo, portanto, para a sua própria exclusão. Esta é uma luta de classe, onde o idoso é estigmatizado pelos padrões culturais; a sociedade capitalista transformou as pessoas em mercadorias, fixando idades, critérios para cada faixa etária da vida (SIGRIST, 2006).
Tais transformações sociais têm influenciado decisivamente nos hábitos familiares, alterando antigos costumes arraigados. Esse novo comportamento passa a ser aceito como uma nova cultura, as famílias incentivadas pela sociedade admitem como necessidade que “os mais jovens também precisam viver a sua vida” ou que “os velhos já viveram a sua.” (COSTA, 1998, p. 12). Assim sendo, o objetivo deste estudo é contribuir para a valorização da cultura popular do idoso, resgatando os causos, as lendas, os provérbios, os ditados, as superstições, as histórias folclóricas que os idosos tem a nos contar. É importante ressaltar que os relatos dos idosos citados neste artigo fazem parte do Projeto de Extensão “Memória e história: a voz e a vez do idoso”, registrado no site do Sigproj/PROEC/UEMS. Para o desenvolvimento deste projeto, utilizamo-nos dos pressupostos teóricos da Metodologia da História Oral, a qual, segundo Delgado (2006), contribui para relativizar conceitos e pressupostos e universalizar experiências humanas e atua principalmente nas áreas do conhecimento antropológico e sociológico. Assim sendo, passamos a ouvir e gravar as histórias dos idosos do Asilo Santo Agostinho de ParanaíbaMS. Foram sujeitos desta pesquisa cinco idosos internos com idade de 65 a 90 anos, pessoas que deveriam merecer todo o nosso respeito e valorização. No entanto, assim como as suas histórias, eles estão esquecidos, abandonados. Portanto, nesta pesquisa, procuramos dar voz a sujeitos que precisam ser
ouvidos, resgatar sua cultura e integrar o saber popular (saber do idoso).
Ao desenvolver esta pesquisa, esperamos também conscientizar a população jovem sobre a importância de conhecer e valorizar a cultura desses idosos, pois conforme Costa (1998, p. 17), “respeitar os costumes das gerações passadas é respeitar a si mesmo, saber que um dia farão parte desse grupo”, e certamente terão seus costumes, suas crenças para contar a população mais jovem. Assim ao ler/ouvir os relatos dos idosos, poderemos saber quem são e foram esses sujeitos, que contribuições nos trouxeram, 204 Conexao UEPG - que cultura internalizada possui e que precisam ser resgatadas para não se perder no tempo e, assim quem sabe, as pessoas poderão dar o devido valor a quem tanto já contribuiu para com essa sociedade e hoje são tão estigmatizados.
Esta foi a nossa pretensão desenvolver um trabalho que de alguma forma pudesse beneficiar o idoso, promover a sua sabedoria, o que não deixa de ser uma prática educativa.

Acesso em 22/05/2012 às 20:58h
Postado por: Maria Luiza Sanglard Malosto

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