A IDENTIDADE SOCIAL DO IDOSO: MEMÓRIA E CULTURA POPULAR
Silvane Aparecida de
Freitas
Maria Jacira da Costa
RESUMO
A cada nova geração, os modos,
comportamentos as expressões verbais e as histórias populares vão sendo
esquecidas ou assumem novos significados. Pensando na importância da
re-significação dessas histórias, desenvolvemos este estudo visando contribuir
para a construção de mecanismos de preservação da cultura popular. Para isso,
transcrevemos os relatos de cinco idosos, internos no Asilo Santo Agostinho,
com o objetivo de trazer à tona sua cultura, criar condições favoráveis para a
socialização do idoso e desfazer a visão unilateral e estigmatizada que vem
desde a antiguidade, que imobiliza o idoso, impossibilitando-o de reagir aos estigmas
da velhice. Ao verificar que a maioria desses sujeitos não possui alfabetização
escolarizada, constatamos o quanto de sabedoria popular eles têm para
compartilhar, possuem uma pedagogia própria que permite a leitura e
interpretação de mundo.
Palavras-chave:
Idoso. Identidade. Cultura. Educação.
Introdução
Na antiguidade, a cultura de um
povo era transmitida de pai para filho, de geração para geração, apenas por
meio da oralidade, sendo a memória humana que conservava as histórias, as
crenças, os costumes das pessoas, de indivíduos que viveram, participaram dessa
esfera cultural e outros fatos relatados por seus antepassados. No entanto, com
as transformações pela qual a sociedade brasileira passou, devido ao processo
de industrialização e aos avanços tecnológicos, a humanidade tem buscado novas
conquistas e descobertas que trazem ao homem atual facilidades que os antigos
não tinham.
Partimos do princípio que todo
ser humano tem sua cultura e a promove na medida em que se comunica com o
outro. Consideramos que a cultura das pessoas menos escolarizadas é rica em
sabedoria popular, brotada do senso comum, da intuição, que é a origem do
conhecimento erudito. Ao buscar compreender a identidade cultural de pessoas
com mais de sessenta anos, queremos também refletir sobre a educação, bem como
os mecanismos internalizados e as contribuições que nos trouxeram. Sabemos que
uma grande parte dessa geração não possuía conhecimento
escolarizado devido à olítica, ao sistema de exclusão, e a cultura da época não
valorizava esse tipo de conhecimento, já que a leitura e a escrita eram
privilégios de poucos.
Partindo desses princípios,
visamos refletir sobre a maneira como o idoso é visto na sociedade atual, sendo
tratado com indiferença acaba por reduzir ainda mais a sua já abalada
auto-estima, contribuindo, portanto, para a sua própria exclusão. Esta é uma
luta de classe, onde o idoso é estigmatizado pelos padrões culturais; a
sociedade capitalista transformou as pessoas em mercadorias, fixando idades,
critérios para cada faixa etária da vida (SIGRIST, 2006).
Tais transformações sociais têm
influenciado decisivamente nos hábitos familiares, alterando antigos costumes
arraigados. Esse novo comportamento passa a ser aceito como uma nova cultura,
as famílias incentivadas pela sociedade admitem como necessidade que “os mais
jovens também precisam viver a sua vida” ou que “os velhos já viveram a sua.”
(COSTA, 1998, p. 12). Assim sendo, o objetivo deste estudo é contribuir para a
valorização da cultura popular do idoso, resgatando os causos, as lendas, os
provérbios, os ditados, as superstições, as histórias folclóricas que os idosos
tem a nos contar. É importante ressaltar que os relatos dos idosos citados
neste artigo fazem parte do Projeto de Extensão “Memória e história: a voz e a
vez do idoso”, registrado no site do Sigproj/PROEC/UEMS. Para o desenvolvimento
deste projeto, utilizamo-nos dos pressupostos teóricos da Metodologia da
História Oral, a qual, segundo Delgado (2006), contribui para relativizar
conceitos e pressupostos e universalizar experiências humanas e atua
principalmente nas áreas do conhecimento antropológico e sociológico. Assim
sendo, passamos a ouvir e gravar as histórias dos idosos do Asilo Santo
Agostinho de ParanaíbaMS. Foram sujeitos desta pesquisa cinco idosos internos
com idade de 65 a 90 anos, pessoas que deveriam merecer todo o nosso respeito e
valorização. No entanto, assim como as suas histórias, eles estão esquecidos,
abandonados. Portanto, nesta pesquisa, procuramos dar voz a sujeitos que precisam
ser
ouvidos, resgatar sua cultura e
integrar o saber popular (saber do idoso).
Ao desenvolver esta pesquisa,
esperamos também conscientizar a população jovem sobre a importância de
conhecer e valorizar a cultura desses idosos, pois conforme Costa (1998, p.
17), “respeitar os costumes das gerações passadas é respeitar a si mesmo, saber
que um dia farão parte desse grupo”, e certamente terão seus costumes, suas
crenças para contar a população mais jovem. Assim ao ler/ouvir os relatos dos
idosos, poderemos saber quem são e foram esses sujeitos, que contribuições nos
trouxeram, 204 Conexao UEPG - que cultura internalizada possui e que precisam
ser resgatadas para não se perder no tempo e, assim quem sabe, as pessoas
poderão dar o devido valor a quem tanto já contribuiu para com essa sociedade e
hoje são tão estigmatizados.
Esta foi a nossa pretensão
desenvolver um trabalho que de alguma forma pudesse beneficiar o idoso,
promover a sua sabedoria, o que não deixa de ser uma prática educativa.
Fonte: http://www.uepg.br/revistaconexao/revista/edicao07/v2/pdfs/revista_conexao_ano7v2_p202_211.pdf
Acesso em 22/05/2012 às 20:58h
Postado por: Maria Luiza Sanglard Malosto
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