quarta-feira, 23 de maio de 2012

Conhecimento popular, conhecimento erudito


Eduardo Rebollo reconhece que não basta ter acesso à informação; o fundamental é transformá-la em conhecimento contextual
Rogério Pereira da Silva


O autor parte das perspectivas de se estudar o conhecimento. Do ponto de vista filosófico o conhecimento resulta da relação do sujeito com o objeto, que passa a ser
conhecido, seja como objeto concreto, seja como ideais, valores ou objetos matemáticos.
A perspectiva psicológica conduz ao estudo do processo cognitivo e analisa a sensação ou recepção dos estímulos. Ele explica que a experiência do conhecimento não é algo cumulativo, visto que quando um novo conhecimento é adquirido, produz uma reorganização em todo o conjunto.
Das teorias do conhecimento, as mais citadas são, segundo Rebolo, empirismo, racionalismo e idealismo. Jean Piaget fala do conhecimento como um processo adaptativo através do equilibro constante de equilíbrio e acomodação e assimilação das estruturas do sujeito e do objeto reciprocamente.
A autor faz essa introdução para falar em “conhecimento popular” e “conhecimento
erudito”, tendo no conhecimento popular algo que surge da experiência – direta ou indireta – com a realidade do dia-a-dia, num tipo de conhecimento que é capaz de observar e absorver fatos e fenômenos.
O conhecimento popular tem valor reprodutivo, que é passado de geração em geração, não se preocupa em alterar estruturas ou se aprofundar em outras questões. Já o conhecimento erudito é aprendido e busca certo distanciamento do objeto. Por ser mais
reflexivo é transformador.
Na sociedade de informação há uma explosão de dados que poderiam nos auxiliar na busca do conhecimento, mas são colocados de maneira caótica e quem se aventura a
buscar as informações necessita de um guia ou uma direção muito clara, pois pode se
perder ou se afogar nesse mar incauto.
O autor diz que não importa tanto falar-se em Internet 2, 3 ou 100, pois a qualidade
das informações e o conhecimento estariam perdidos no meio de muitas outras informações sem importância. Mesmo que se criem filtros e refinamento nos buscadores, isso não basta.
Ele sugere que a chave, para abrir as portas corretas, devem estar dentro de cada um, pois o indivíduo é o único capaz de ponderar a qualidade de um texto e isso não é um problema de software, mas de cabeças.
O autor comenta também que as novas tecnologias da informação que surgem e se
proliferam não estão acessíveis a todos e criam a diferença entre aqueles que tem tempo e disponibilidade e os que ficam à margem. Ele diz que já se pode falar em infopobreza. Isso afeta não somente os indivíduos, mas nações. Há uma nova trama econômica, social e cultural. Nesse cenário os sistemas de educação deveriam desempenhar um papel essencial.
Castells em seu livro “A era da Informação” nos coloca que há populações distintas:
aquelas que podem selecionar circuitos de comunicação multi-direcionados, aos quais ele chama de interatuantes, e os que têm um número limitado de escolhas, os interatuados.
Nesse jogo já estamos no terceiro tempo. E qual é a atitude das Universidades ante
estas realidades?
Universidade e tecnologias

Acompanhar as novas tecnologias no seu surgimento e crescimento rápido e constante é quase impossível para a Universidade, por sua estrutura tradicional. Mas, diante das inovações já existentes, a estrutura tradicional de cadernos de presença / docentes / cursos sempre presenciais que são atualizados, no melhor dos casos anualmente, devem
responder ao desafio das tecnologias da informação, não apenas para ampliar as possibilidades da partilha do conhecimento, mas também para preparar os alunos para um mercado cada vez mais integrado com essas tecnologias. Espera-se que os estudantes saiam da universidade com conhecimento de causa.
Corrigir essa defasagem não é tarefa fácil, pois há necessidade de mudanças estruturais tanto físicas quando da mentalidade de um corpo docente que esteja disposto aos desafios de uma evolução cognitiva. E não apenas o fator humano, mas as implicações
econômicas, de espaços físicos, formas de gestão, etc.
Mas a universidade é metodologicamente e cognitivamente lenta. Vê-se uma velocidade interna e outra externa. Há um paradoxo, pois universidade deveria ser o ambiente ideal para o novo é onde existe a resistência.
Segundo muitos ensaístas, estamos às portas de uma nova maneira de formar o conhecimento. A sociedade, que antes se baseava nas relações materiais agora se baseia nas relações de comunicação.

O que mudou para a Universidade

Com o avanço das tecnologias e sistemas de comunicação a universidade está perdendo parte da exclusividade como centro de saber. Além das suas próprias famílias, as crianças têm nos meios de comunicação uma nova fonte de conhecimento e saber.
A velocidade da sociedade é mais rápida que a velocidade de atualização dos programas curriculares. O saber está à mão apenas através de um click e a universidade não pode competir de igual para igual com essa tendência.
Os modelos de estudo onde o professor fica uma hora e meia à frente da classe parecem estar se esgotando, por mais capacidade que o docente tenha. Não se trata de transformar professores em showman mas sim de atualizar de alguma forma os discursos e as formas de relação professor-aluno que se apresentam hoje.
Professores, estudantes de gestores vêem essas mudanças em perspectivas diferentes, como aqueles que acham que as mudanças são boas por si mesmas e que deve-se incorporar a tecnologia para modernizar-se, ou aqueles que entendem que o controle do
conhecimento está perdido e estão quebrando as estruturas da universidade ou os que
acreditam que os sistemas tecnológicos têm sua sede de controle nos centros hegemônicos e que nos torna mais dependentes como periferia.O caminho que começa
Diante da realidade é necessário que a universidade se transforme. Mas como fazer isso é a questão, visto que a universidade faz parte da trama social que está inserida e não
pode se ficar de fora de suas mudanças ou influências.
A questão de reformar, modernizar e transformar a universidade não é nova e várias
propostas e modelos foram tentados, sem muito êxito. A resposta não está simplesmente
trazer os meios para dentro da universidade, pois essa tentativa foi feita com a inserção de materiais como o vídeo cassete, áudio, como se isso fosse tornar o ensino melhor, mas não foi o que aconteceu.
Muitos estudantes trazem aos professores realidades novas e muitas vezes inimagináveis quando narram seus trabalhos nas empresas e novas formas de conquista de clientes, etc.
Estão em outro nível de busca de conhecimento que a universidade procura chegar, que é o de não acumular conhecimento, mas o de provocar a investigação, abrir as mentes e a criatividade.
Temos que desenvolver as experiências da educação à distância, romper com os esquemas de aula como centralidade, potencializar o trabalho fora da classe e integrar a
idéia da formação permanente.
Há que se fazer um mix entre o mundo material e o mundo comunicacional, entre experiências do conhecimento e novas formas de tecnologia: integrar práticas com teorias.
O futuro imediato, ou seja, agora, o problema não é ter acesso à informação, mas sim em como transformá-la com conhecimento e colocar dentro de um dado contexto. Há
cada vez mais máquinas para mais pessoas, mas as diferenças também são grandes entre os que consomem e os que são capazes de produzir além de consumir (prosumidores?).
Há um grande desafio pela frente para os responsáveis pela formação dos futuros protagonistas das nossas sociedades. Ajudá-los a discernir qualitativamente é um dos
desafios mais difíceis que temos adiante. Mas difícil não é impossível.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

REBOLLO, Eduardo - Informação e conhecimento na sociedade da informação, In: MARQUES DE MELO, TARSITANO, GOBBI & SATHLER – Sociedade do Conhecimento: aportes latino-americanos, São Bernardo do Campo, Editora Metodista,
2005


Acessado em 23/05/2012 às 10:10h

Postado por: Emiliana Raquel Sousa Raele

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